quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

do fim (por agora)

Não me fazia sentido deixar este espaço ao abandono. Gosto demasiado dele e do que contém. Não porque de repente tenha sido invadida por um narcisismo maior que as casas, mas porque contém relatos preciosos de vivências e aprendizagens pessoais. Mas, há um tempo para tudo. Não necessariamente o cronológico, mas um tempo interior, que é meu, e que me regula sem se preocupar com o passar dos ponteiros do relógio que rege o outro tempo. O tempo do Post it, não é este, não agora, sendo que, a partir do momento em que assumo esse facto, não vale a pena fingir que é de outra forma. Aceito que assim seja. Não que o exclua para um canto escondido. Não que não possa, ocasionalmente aqui voltar, aliás quer-me parecer que isso irá acontecer, se calhar até mais cedo do que se possa imaginar. Mas se e quando acontecer, é porque o senti, e quero que a razão que me traga aqui seja essa. Por isso, neste último dia de 2010, me despeço deste ano que ainda existe, com um desejo ou uma sugestão (que fui buscar a outra pessoa): vamos celebrar a vida! E até à próxima...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Da vida

Há coisas que se sentem inevitáveis. No entanto, há algo que é realmente inevitável. Não nos deixa, e não nos dá a possibilidade de escolha. Vem, quase sempre quando não se quer. Vem, na maioria dos casos, sem aviso prévio. E depois, vai embora e, quando não nos leva consigo, deixa-nos o vazio. Como hoje. Ali estava ele, deitado naquela cama de hospital, naquele quarto de tons quentes. Ladeado pelas duas mulheres que lhe seguravam a mão. Como se o toque pudesse ter um qualquer poder reparador. E tinha. E tem. E teve. No meio da sua reacção, o espanto. Olhava-me incrédulo como que a pedir que lhe dissesse que não, que não era verdade. Não fui capaz. Não podia, ainda que o quisesse. E queria muito. As lágrimas corriam-lhe, dançando ao longo das bochechas coradas, evitando todo e qualquer obstáculo que se lhes colocasse pelo caminho. As mulheres que o ladeavam mantinham as mãos coladas às suas. Ele agradecia e, olhava para mim. Não parava de olhar para mim, suplicando-me com aqueles grandes olhos castanhos. E eu ali permaneci. Sem lhe poder dar a resposta que ele queria ouvir.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Foram-se as palavras, mas ficam as imagens


Wim Wenders e Fellini parecem-me boas companhias.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Foram-se as palavras

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Da vida

Deambulando por artigos deparei-me com uma espécie de piada relatada por Freud no seu livro O dito espirituoso: "a vida humana divide-se em duas partes: na primeira, passamos a vida a desejar a segunda, e na segunda desejamos voltar à primeira". Pois que será uma generalização, como tantas outras pelas quais nos regemos, mas a verdade é que a insatisfação parece ser uma qualidade inerente à condição humana. Não sendo isso necessáriamente mau. A insatisfação pode impulsionar-nos, dar-nos outra vontade, vontade de mudança, de iniciar projectos, de retomar aquilo que foi deixado para trás. Mas a insatisfação também pode ser como usarmos uma pala nos olhos. Impede-nos de disfrutarmos do presente, porque estamos sempre com vista no futuro ou, passado. Na verdade, quando li esta frase, lembrei-me de uns momentos meus. Encaixou na perfeição. E sorri. It's human nature.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Dos outros

No fim de contas parece que a exigência mais imperiosa inerente ao amor é a de nos levar a pedir aquilo que não nos pode ser oferecido senão espontaneamente. E isto produz exactamente o efeito contrário: destruir toda a espontaneidade do impulso.
Guglielmo Gulotta in Comédias e Dramas no Casamento

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

De mim

Nos últimos tempos, há entre mim e este blog uma dualidade crescente. Creio até, já ter falado sobre isso. Ou talvez não, não sei. Noutro dia, dei por mim, inclusive, a comparar este blog a uma relação. Passo a explicar. Lembro-me perfeitamente do dia em que decidi ter um blog. Foi precisamente no dia em que descobri a blogosfera, toda ela virtudes e sem defeitos assumidos. Assim pensava, no início. Tal como acontece quando nos apaixonamos. A visão fica toldada, selectiva, talvez. Damos o melhor de nós, investimos sem qualquer esforço, num gesto que nos parece o mais natural. Lembro-me do gozo que me dava escrever aqui as primeiras palavras, as primeiras frases. Lembro-me de ir em busca de outros, que como eu, partilhavam desta mesma vontade, desta mesma descoberta. Lembro-me de descobrir que se podiam conhecer pessoas sem as conhecer. Outras ideias, outras perspectivas, outros gostos, outras vidas. Aos poucos fui espaçando as palavras escritas. A emoção inicial foi diminuindo, sendo substituída por outros afazeres que se mostravam primordiais. Muitas vezes, mais não era que uma desculpa encontrada por mim. As palavras iam espaçando porque a vontade não era suficiente. Tal como numa relação. Aos poucos vamos desinvestindo à medida que a novidade se torna o habitual e conhecido. Mas quando as relações são verdadeiramente relações, isto de um ponto de vista estritamente pessoal, existem sempre momentos em que apetece fazer algo que as possa revitalizar. Tal como agora. Tal como aqui. Deixei de comentar nos blogues que lia, que leio. Não porque goste menos, apenas porque optei por fazê-lo. O resultado não se fez esperar. Igualmente deixei de ter aqueles comentários que me iam acompanhando. Tal como na vida, tal como nas relações. Tendencialmente, se deixamos de dar deixamos também de receber. Felizmente que observo nas estatísticas que também tenho, pois este não deixa de ser, também ele, um exercício narcísico, que não fui "abandonada". Contra todas as expectativas, constato que há, quem ainda tenha esperança no futuro deste espaço. E, de momento, tal como na (minha) vida, tal como nas (minhas) relações, basta-me.

domingo, 23 de agosto de 2009

Dos livros (preferidos)


Arranjei o meu covil e o resultado parece ser um sucesso. Do exterior vê-se somente um enorme buraco, mas na realidade este não conduz a parte alguma, bastam alguns passos para se ir de encontro a um sólido bloco de pedra. Não quero vangloriar-me de ter elaborado cientemente este estratagema, é simplesmente o vestígio de uma das minhas numerosas tentativas de construção fracassadas, mas, para concluir, pareceu-me vantajoso não tapar este buraco. É certo que há artimanhas tão subtis que se viram contra si mesmas, sei-o melhor do que ninguém, e é certamente audacioso deixar supor pela existência deste buraco aí haver algo que mereça uma investigação. Mas enganam-se a meu respeito se acreditam que eu construo um covil por pura cobardia. É a alguns passos deste buraco que se encontra, dissimulado sob uma camada de musgo fácil de deslocar, o verdadeiro acesso ao meu covil.
in O Covil, Franz Kafka

domingo, 16 de agosto de 2009

Da vida

Há certas respostas que por mais que tentemos encontrar nos mais variados sítios, mais perto, mais longe, nesta ou naquela pessoa, vão estar sempre num mesmo local à espera do dia em que as olhemos de frente e as reconheçamos como aquelas que tantas vezes procurámos. Num mesmo local. Dentro de nós.

domingo, 26 de julho de 2009

De nós

E depois existem aqueles momentos em que nós, se tivermos sorte, nos damos conta de que, acima de tudo, temos que ser verdadeiros connosco próprios. Mais do que com os outros. Connosco. Às vezes não queremos saber o quão importante isso é. Reconhecermo-nos como somos pode implicar termos que proceder a mudanças, que como já sabemos, nunca são fáceís. Ganhamos sempre algo, mas aquilo em que pensamos no imediato é no que perdemos. Vezes há em que nos reconhecemos mas optamos por ficar na mesma. Mas porquê? Foram tantos os momentos em que me questionei acerca desse facto. Porque nos custa tanto sermos fiéis ao que somos? Seguirmos os nossos desejos e escolhas? Até que um dia encontrei quem me desse a resposta, ou pelo menos uma das múltiplas respostas para a pergunta que tantas vezes formulei. Muitas vezes sermos nós próprios implica desiludirmos os outros.